O lado invisível do Transtorno Alimentar

Os transtornos alimentares são condições complexas que afetam milhões de pessoas em todo o mundo, mas suas batalhas mais profundas muitas vezes permanecem invisíveis. Por isso, eu digo que estes distúrbios vão muito além de simples preocupações com alimentação ou peso. Estão ligados a questões emocionais, psicológicas e físicas significativas. E, muitas dessas questões são sutis, facilmente mal interpretadas ou ignoradas por aqueles que não vivenciam os transtornos diretamente.

Hoje quero destacar os aspectos menos óbvios dos transtornos alimentares. Vamos discutir como eles impactam a qualidade de vida e a produtividade de uma pessoa, além de explorar as consequências emocionais e físicas que muitas vezes são desconsideradas. O objetivo é educar e promover a empatia, desfazendo o estigma que envolve esses distúrbios e incentivando quem sofre a procurar ajuda.

Acredito que é crucial reconhecer a seriedade dessas condições e encorajo a busca por tratamento e recuperação. Pois, muitas vezes as pessoas chegam até mim, ficando na dúvida por anos e agravando certas situações que poderiam ter sido contornadas com muito mais leveza se fossem diagnosticadas e tratadas em seu início.

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O que é o Transtorno Alimentar?

Gosto de dizer que os transtornos alimentares são distúrbios complexos caracterizados por comportamentos alimentares perturbados, causados por uma grande variável de motivos. Assim, impactando significativamente a saúde física, mental e a capacidade funcional do indivíduo. Esses transtornos envolvem uma interação entre predisposições genéticas, fatores biológicos, influências ambientais, e questões psicológicas e emocionais. Por isso, que para compreendermos esses transtornos precisamos de uma abordagem holística, reconhecendo a conexão entre mente e corpo.

Porém, como estes transtornos alimentares afetam a vida do paciente?

Gosto de trazer sob a ótica de 4 áreas muito importantes, que irei resumir aqui:

O impacto na Saúde Física

A primeira coisa que podemos observar quando falamos de transtorno alimentar é o impacto na saúde física. Assim, posso elencar a desnutrição e deficiências nutricionais provenientes de restrições alimentares serveras, por exemplo, como principal consequencia. Porém, ainda podemos trazer alterações na pressão arterial e frequencia cardíaca, e até desequilíbrio dos eletrolíticos causando insuficiência cardíaca.

Além disso, ainda temos problemas gastrointestinais como constipação, distensão abdominal e outros problemas, por exemplo, gerados por dietas restritivas ou do ciclo de compulsão e purgação. Ainda posso acrescentar a osteoporose, problemas endócrinos e esses são só o início de uma lista.

A mente também é afetada

Apesar de falarmos do corpo e da mente quando falamos de transtornos alimentares, acho válido ressaltar que há potencial em várias outras áreas e transtornos. Por exemplo, existe uma alta relação entre os transtornos alimentares e a ansiedade e depressão. Outro fator importante é a relação com a baixa autoestima e os distúrbios de imagem corporal.

Além disso, o corpo, o comportamento alimentar e a própria mente podem nos levar a isolamento social e comportamentos autodestrutivos.

O transtorno alimentar e as relações sociais

O transtorno alimentar tem profundo impacto nos relacionamentos, pois trazemos o isolamento de quem não quer ser julgado ou até “visto” pelas outras pessoas. Seja por causa de seu comportamento frente aos alimentos, mas também em relação a sua autoestima e autoimagem.

Além disso, pode gerar conflitos familiares e interpessoais, pois muitos acreditam que são comportamentos banais e simples de serem resolvidos. Enquanto a pessoa está sofrendo, consciente ou inconscientemente, como aquele desafio. Isso gera diversos conflitos, principalmente pela desinformação.

Impacto na qualidade de vida e funcionalidade

A desnutrição e a obsessão com pensamentos sobre comida, peso e forma corporal podem diminuir a capacidade de concentração e o desempenho acadêmico e profissional. Além disso, pode causar ausências devido a problemas de saúde relacionados ao transtorno alimentar na escola ou no trabalho.

Existe uma redução de qualidade de vida e até energia para avançar na vida, limitando as atividades diárias e a capacidade de viver a vida plenamente.

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Quais são os transtornos alimentares mais comuns?

Os transtornos alimentares são complexos e apenas trazê-los pode minimizar a sua importância. Porém, acredito que o primeiro passo para ajudar e dar os primeiros passos no tratamento é tomar consciência.

Aqui trago os 4 transtornos alimentares que mais surgem no consultório:

Anorexia Nervosa

A anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizada por restrição alimentar intensa e um grande medo, inclusive patológico, de ganhar peso. Dessa forma, levando a pessoa a ter um peso corporal significativamente baixo em relação à sua trajetória de desenvolvimento e saúde física.

A pessoa com anorexia nervosa tem percepção distorcida de seus corpos, vendo-se como sobrepesados mesmo quando estão perigosamente magros. Lembrando que a magreza pode ser perigosa para a saúde e pode simbolizar carências do corpo. Por isso, podemos dizer que além da falta de peso e desnutrição, a anorexia nervosa pode levar a ausência de menstruação, osteoporose, bradicardia, hipotermia e insuficiência cardíaca, como já mencionei acima.

Bulimia Nervosa

A bulimina nervosa é um outro transtorno alimentar comum e muito ignorado. Este transtorno envolve episódios recorrentes de compulsão alimentar, como o consumo de grandes quantidades de alimento em curto período de tempo, seguido por comportamentos compensatórios inadequados, como vômitos autoinduzidos, uso excessivo de laxantes ou diuréticos, jejum e excesso de exercícios, para evitar o ganho de peso.

Dessa forma, este comportamento de compulsão e purgação, resultado de perda de controle sobre a alimentação, pode causar diversos danos a saúde. Por exemplo, problemas gastrointestinais, inflamação e ruptura esofágica, problemas dentários por causa do ácido estomacal e desbalanço dos eletrolíticos, causando danos ao coração.

Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica

O transtorno alimentar de compulsão alimentar periódica é semelhante à bulimia nervosa em termos de episódios recorrentes de compulsão alimentar, mas sem os comportamentos compensatórios regulares. Os pacientes com este transtorno frequentemente comem grandes quantidades de comida rapidamente e até o ponto de desconforto físico, sentindo-se fora de controle durante os episódios.

Por exemplo, recentemente tenho recebido pessoas que são adeptas a alimentação por rodízios e a fartura e a infinidade de comida ativa a vontade de comer “até explodir”. Porém, fazer isso uma vez não é o problema, o desafio surge quando isso acontece toda semana, a cada quinze dias e a vontade fica incontrolável.

Os males do transtorno de compulsão alimentar periódica pode levar a ganho de peso e à obesidade, aumenta o risco de condições cardiovasculares, diabetes tipo 2, hipertensão e facilita o surgimento de problemas psicológicos como a depressão e ansiedade.

Transtorno da Alimentação Seletiva

Conhecido anteriormente como “síndrome da alimentação seletiva”, este transtorno alimentar é caracterizado por uma ingestão alimentar extremamente limitada e padrões de alimentação restritos. Não é diagnosticado apenas pela recusa de comer certos alimentos, mas pela persistência dessa recusa a ponto de afetar a saúde nutricional e o funcionamento social.

É importante ressaltar aqui que a restrição alimentar não está motivada por distorções da imagem corporal ou pelo desejo de perder peso. Aqui, eu vejo como importante uma análise profunda do relacionamento com a comida, observar outras áreas da vida e entender as principais motivações.

Sempre existe algo mais profundo quando queremos nos alimentar de forma tão restritiva. Assim, afirmo que não é só “selecionar” os alimentos, mas restringir uma grande quantidade causando deficiências nutricionais e prejudicando o desenvolvimento do corpo e sua manutenção.

Este caso é muito agravado em crianças e adolescente, pois afeta o seu crescimento físico e neurológico.

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O maior desafio do transtorno alimentar

Para mim, o maior desafio do transtorno alimentar é a falta de consciência que as pessoas ainda tem sobre essas doenças e o que elas podem causar em suas vidas. Assim, este assunto se torna invisível, escondido atrás de sátiras, brincadeiras e fazendo as pessoas se esconderem atrás de comportamentos alimentares prejudiciais.

Portanto, é importante entender que o seu desafio com peso, pode não ser só a alimentação. Por isso, faço parcerias com várias nutricionistas e psicólogas para o tratamento de transtorno alimentar. Pois muitas não conseguem auxiliar seus pacientes, por ser uma patologia mental e quando a mente não está saudável o corpo não consegue estar também. Dessa forma, unindo um tratamento individualizado e efetivo com a reconstrução de hábitos alimentares, o conhecimento dos alimentos e o acompanhamento de uma profissional da nutrição, o tratamento do transtorno alimentar é potencializado.

Não acredito que podemos ficara silenciados. Quem é amigo e familiar deve indicar para um profissional para análise do comportamento, corpo e mente. Se você é a pessoa passando pelo desafio como a anorexia, bulimia ou compulsões periódicas, então sugiro que escolha para sua vida ter o contato de um profissional que irá te ajudar. Você não está sozinho e essa atenção e olhar profissional pode alterar significativamente sua vida pessoal e profissional, além dos relacionamentos que permeiam essas duas áreas.

Se você se sentir confortável as portas do meu consultório estão abertas. Senão, encontre um profissional que confie e sinta-se seguro, combinado?

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Não deixe este assunto ficar no invisível. O transtorno alimentar impacta a vida de muitas pessoas e você pode começar cuidando da sua saúde.

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Lílian Félix - Doctoralia.com.br
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