Os benefícios e malefícios dos jogos eletrônicos

É muito comum eu receber aqui no consultório mães e pais preocupados com seus filhos que ficam muito tempo em jogos de computador e vídeo game. Inclusive, acabam transformando os jogos em algo maléfico em casa e deixa de ser compreensivo. Porém, eles esquecem de alguns fatores: os pais são eletrônicos e conectados também, seus filhos ficavam na tela do celular enquanto bebês e sempre as telas foram entorpecentes para que os adultos conseguissem conversar.

Infelizmente, as telas dominaram a vida dos jovens e crianças. Porém, chega uma fase que este caminho se torna uma fuga. Ao invés do jovem (ou adulto, tá?) jogar para se divertir e encontrar amigos, ele começa a jogar para se esconder e fugir da realidade.

Por isso, hoje quero clarear um pouco a sua mente sobre jogos, seus benefícios e malefícios, além do que podemos fazer para termos o uso sadio de jogos eletrônicos em nossas vidas. Sejamos jovens, adolescentes ou adultos.

Os jogos fazem parte da cultura humana

Primeiramente, acho válido trazer para nossa mentalidade que jogos fazem parte da nossa cultura. Todos nós somos jogadores, mesmo sem perceber. Quer saber tipos de jogos que você joga e nem percebe? O jogo do cupom de desconto que a sua loja dá e você fica colecionando para adquirir um brinde. As loterias que o shopping faz para sortear aquele mega carro no dia das mães ou no natal. Quer outro? Que tal as metas e objetivos da sua empresa? Colocar uma meta e alcançar é um jogo!

Porém, os adultos (e alguns jovens) perderam a diversão durante o jogo. Metas e objetivos que antes eram divertidos agora se transformaram em pressão. O que antes arrancava sorriso, agora é dobrar a meta.

Homo Ludens

No livro Homo ludens: O jogo como elemento da cultura, Johan Huizinga propõe que o jogo é um elemento fundamental da cultura humana, tão importante quanto o raciocínio e a fabricação. Dessa forma, ele pressupõe que o jogo vem antes da nossa sapiência. Inclusive, mostrando que os próprios animais jogam entre si de forma instintiva.

O jogo, segundo Huizinga, é um ato de vontade própria, ou seja, participa quem quer e quando quer, cria ordem e organização, limita uma experiência em um tempo e espaço, traz regras próprias e ainda tem a possibilidade de unir o real e o imaginário. Além disso, o autor propõe que os elementos lúdicos dos jogos estão nas guerras, na política, no conhecimento, na filosofia, na arte e até na poesia, ou seja, estão em todas as áreas de nossas vidas.

Por isso, não podemos descartar os benefícios dos jogos, mas também não podemos esquecer de seus malefícios. Vamos explorá-los um pouco?

Os benefícios dos Jogos Eletrônicos

Trago aqui alguns dos benefícios que acho mais válidos. Além disso, como eles podem ajudar em alguns transtornos psicológicos e psiquiátricos.

Desenvolvimento Cognitivo

É imprescindível dizer que jogos melhorar nosso pensamento, nossa capacidade de raciocínio lógico, velocidade de resposta e alguns estudos ainda destacam o impacto positivo em funções executivas. Por isso, que muitos pais não conseguem acompanhar a velocidade de pensamento de seus filhos, pois alguns jogos são tão rápidos que os ensinam a terem uma rápida velocidade de resposta e assertividade.

É comum encontrarmos grandes líderes em empresas que foram bons jogadores. Além disso, alguns campeonatos de corrida também estão revelando o poder dos pilotos virtuais. Entende que o jogo é apenas uma realidade que o jogador se coloca para aprender algo novo?

Nós sempre jogamos e vamos sempre jogar, mas… vou deixa para falar do “mas” nos malefícios do jogo.

Socialização e Trabalho em Equipe

A distância pode ser um grande desafio. Porém, jogos fazem os jovens se comunicarem, se abrirem e conhecerem pessoas novas através de um ponto de interesse: o jogo em questão. Não importa se é um jogo de corrida, um FPS ou um jogo de estratégia. Estar no ambiente traz uma abertura para que os jogadores colaborem entre si e exerçam uma comunicação mais assertiva e envolvente entre si.

Inclusive, algumas empresas estão promovendo jogos entre colaboradores para que exista um desenvolvimento de trabalho em equipe usando jogos.

Na escola do filho de um conhecido, eles colocaram o desenvolvimento de projetos em Minecraft, um jogo de construção cooperativa, para os alunos como atividade extracurricular. Os jovens criaram casas, um grandioso barco pirata, que demorou 3 meses para ficar pronto, e fizeram também um condomínio de casas, onde cada um mostrou a sua em uma amostra cultural digital para os pais.

Isso é um exemplo de como os jogos tem o poder de transformar pessoas e fazê-las trabalhar em equipe.

Redução do Estresse e Ansiedade

Também é sabido que as pessoas que jogam podem ter uma redução do estresse e da ansiedade. Porém, aqui vou deixar um grande alerta: DEPENDE DO JOGO. Jogos competitivos online, por exemplo, podem subir o nível de ansiedade e estresse. Inclusive atrapalhando os demais benefícios dos jogos.

Por isso, temos que ficar atentos ao que os jogos nos fazem sentir, ok?

Os jogos trazem uma forma de escapismo e relaxamento que ajuda em alguns casos de ansiedade e estresse. Pois, há redução de níveis de cortisol. Porém, como mencionado, depende do tipo de jogo e sua intensidade.

Reabilitação e Terapia

Por fim, muitos jogos são criados para serem usados em reabilitações físicas, mentais e emocionais, e até em terapias. Trazendo o mundo lúdico dos jogos como ambiente de teste e experimentação, facilitando uma transição de caso, por exemplo. Por vezes é melhor fazer o paciente vivenciar algo no mundo virtual do que no mundo real inicialmente. Assim, ele consegue se preparar para o mundo que ele irá enfrentar previamente.

Porém, só este tópico daria um texto inteiro.

Os malefícios dos Jogos Eletrônicos

Agora trago para a discussão os malefícios dos jogos eletrônicos e como eles afetam negativamente a vida de jovens e adultos. Como essa jornada pode se tornar muito cruel se não for bem orientada pelos pais, ou por si mesmo, no caso dos adultos.

Começando já com força.

Vício em Jogos

Vícios em jogos é um transtorno já definido pela Classificação Internacional de Doenças. O CID-11 já possui até detalhamentos sobre cada tipo de jogo e suas interações. Por isso, é importante a gente trazer esse como o primeiro tópico aqui.

O vício em jogos é categorizado pela incapacidade de limitar o tempo em jogo, ter dificuldade de parar de jogar, mesmo quando é necessário, e tentativas frustradas de tentar reduzir ou parar de jogar. Além disso, uma pessoa com vício em jogos tende a priorizar os jogos em detrimento de suas outras atividades diárias. Outra coisa é a negligencia de suas atividades diárias, profissionais ou acadêmicas.

Além de tudo isso, a pessoa aditiva à jogos possui alterações de humor ao ser impossibilitada de jogar, sente culpa ou vergonha pelo tempo gasto em jogo e tem a necessidade de jogar por períodos cada vez mais longos.

É claro que muitos jogos são construídos para viciar. Isso não podemos negar. Os desenvolvedores de jogos são especialistas em dopamina, em como recompensar os jogadores e como deixá-los focados e pensando continuamente nos jogos. Dessa forma, é importante ressaltar que os jogos, como disse anteriormente, estão dentro da base comportamental e saber administrar o tempo e intensidade de jogo é uma habilidade humana que precisa ser desenvolvida.

Por fim, o vício em jogos ainda pode alterar padrões de sono, trazer problemas posturais e o vício ainda pode fazer o jogador negligenciar sua própria higiene, saúde e bem-estar.

Tratamento para vício em jogos

Cada pessoa pode passar por diferentes momentos e o estudo do vício em jogo deve ser amplo. Uma análise holística do caso é importante. Análise da casa, do ambiente profissional ou acadêmico, interesses e até relacionamentos são importantes serem observados.

Aqui no consultório gosto de ver por completo o cenário, para que o tratamento seja estratégico e assertivo. Por isso, nas consultas, gosto de investir um tempo estratégico para cada paciente. Trazendo um diferencial para jovens e adultos, e resultados muito poisitivos.

Impacto na Saúde Mental

O excesso de jogos impactam na saúde mental. Já existem diversos estudos que apresentam a relação entre jogos excessivos, a depressão e ansiedade. Cada tipo, intensidade ou frequência impactam nos transtornos de humor e na qualidade e bem-estar e de vida dos jogadores.

Além disso, há estudos que mostram quais tipos de jogos instigam um comportamento agressivo e violento, além de outros que nos deixam passivos e letárgicos. Por isso, é sempre bom analisar a intenção dos jogos que joga.

Problemas Físicos

Jogos em excesso podem causar sedentarismo e consequências ligadas a falta de mobilidade. Algumas delas, como problemas de posturas e visão devido ao uso prolongado de telas.

Aqui, é muito importante entendermos que vida é movimento e o corpo precisa estar se movimentando para ter mais vida. Caminhada, corrida, musculação e outras atividades desempenham um papel fundamental na sua saúde física.

É interessante até analisarmos os jogadores profissionais de e-sports. Eles possuem uma rotina além das telas. São treinamentos físicos, nutrição especializada, dinâmicas de movimentação do corpo e regulagem constante de postura. Os jogadores profissionais, inclusive, passam menos tempo na tela do que os espectadores imaginam. Pois, passam tempo estudando estratégias, melhorando a performance do seu corpo, da sua mente e de seus reflexos. Talvez você nem saiba disso e talvez agora queira adicionar alguns novos hábitos para sua rotina, não é mesmo?

Impacto no Desempenho Acadêmico e Profissional

Um dos grandes malefícios do excesso de jogos eletrônicos é a falta de concentração e produtividade no ambiente acadêmico e profissional. Quem passa a noite jogando chega exausto no trabalho e isso afeta seu desempenho, sem falar que ficam pensando no jogo e negligenciam suas atividades.

Infelizmente é uma verdade.

Nesses casos, é muito importante um acompanhamento para que sua funcionalidade profissional e social não sofra grandes impactos.

Autocontrole é a chave!

Jogar não é o problema, como disse anteriormente, os jogos estão na nossa cultura mesmo antes do homem saber se comunicar. Porém, com a evolução dos jogos, os desenvolvedores conhecem mais a funcionalidade dos nossos corpos e transformam seus projetos em jogos viciantes.

Porém, eles fazem a parte deles e nós devemos fazer a nossa através do auto controle, da auto observação e do auto conhecimento. Vamos aprender a analisar nosso comportamento e sermos verdadeiros para que relacionamentos não sejam destruídos, demissões ocorram e famílias vão à falência.

Aqui minha preocupação é que você tenha seu bem-estar e seu hobbie, mas de uma maneira madura, consciente e funcional. Aqui eu falo da arte de viver a vida.

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Lílian Félix - Doctoralia.com.br
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