Imagine um dia em que cada momento parece um desafio interminável. O peso da rotina, as pressões constantes e as expectativas sufocantes transformam sua jornada em uma batalha silenciosa contra o esgotamento emocional. Você já se sentiu assim? Perdido em um labirinto de pensamentos negativos, onde a alegria parece um conceito distante e quase inalcançável?
Se você se relaciona com o que comento acima, este texto foi escrito para você!
Hoje quero compartilhar uma das estratégias, talvez posso chamar de hábito, para ter uma vida mais leve e saborosa. Assim, vamos falar dos desafios do cotidiano e do Savoring, a arte de saborear a vida.
O Desafio Silencioso do Cotidiano
Imagine o cotidiano como um rio de demandas constantes, onde estamos sempre nadando contra a correnteza. Gosto de dizer que nosso mundo moderno criou uma armadilha sutil: quanto mais conectados, mais distantes de nós mesmos nos tornamos. A hiperconexão não nos aproxima, paradoxalmente nos afasta da nossa essência.
Por isso, observo diariamente em meu consultório como esse contexto corrói silenciosamente nossa saúde mental. E gosto de colocar no plural, pois nós médicos também estamos sujeitos ao esgotamento. Muitas vezes para ajudar, acabamos até privando da nossa própria saúde. Por isso, gosto de colocar que não são apenas números ou diagnósticos – são histórias de pessoas reais lutando contra uma exaustão que parece não ter fim. Ansiedade, depressão e burnout não são mais exceções, são quase uma regra no mundo contemporâneo. E isso me entristece, pois deixamos de ser uma sociedade mentalmente saudável para uma cultura onde as pessoas valorizam ter algum tipo de doença mental.
O que antes era considerado estresse pontual hoje se transformou em um estado quase permanente. Assim, nosso sistema nervoso, biologicamente preparado para momentos de luta ou fuga, está constantemente ativado. Imagine um carro com o motor sempre em alta rotação – inevitavelmente algo vai se desgastar, não é mesmo?
Nossa sociedade criou um modelo de produtividade que nos faz sentir válidos apenas quando estamos fazendo algo. Descansar virou sinônimo de improdutividade. Mas a verdade científica é outra: descansar, respirar e apenas observar são ações tão importantes quanto produzir. Inclusive, meu colega que é especialista em produtividade e faz a gestão de carreira de CEOs, diretores e presidentes, sempre fala da importância do ócio para aumentar a produtividade.
É nesse contexto que o Savoring surge não como mais uma técnica milagrosa, mas como uma abordagem científica de reconexão. Uma metodologia que nos convida a saborear, literalmente, cada momento da nossa existência. Vamos falar sobre ela?
Savoring: a luz no cotidiano
Vamos mergulhar juntos no universo do Savoring?
O Savoring nasceu no coração da psicologia positiva, um movimento científico que decidiu olhar além dos problemas, focando no potencial humano de crescimento e bem-estar. Cientificamente, podemos definir como a capacidade de registrar, apreciar e amplificar as experiências positivas. Não é simplesmente ser otimista – é um processo ativo de conexão com o momento presente.
Pense como um músculo emocional que pode ser treinado. Assim como um atleta desenvolve força física, podemos desenvolver a capacidade de extrair prazer e significado dos momentos cotidianos. Essa é uma habilidade que vai muito além da gratidão – é uma forma de estar consciente da sua própria vida, no momento presente.
Os princípios de savoring
Os princípios fundamentais do Savoring se estruturam em alguns pilares essenciais:
Primeiro, a presença absoluta. Não se trata de viver no passado ou se antecipar ao futuro, mas habitar plenamente o agora. Dessa forma, cada respiração, cada sensação, cada micro-experiência se torna um convite à conexão. Assim, a presença absoluta afasta nossa mente das preocupações, nos tira do passado e nos mantém no aqui e agora, liberando espaço em nossa mente.
Segundo, a ressignificação. Savoring não nega os desafios, mas os transforma. É olhar para uma situação difícil e encontrar nela um fragmento de aprendizado, de beleza, de crescimento.
Terceiro, a intencionalidade. Saborear é um ato deliberado. Não acontece por acaso, mas por escolha consciente. É decidir, mesmo nos momentos mais desafiadores, que você merece experimentar o bem-estar.
Cientificamente comprovado, o ato de saborear o momento produz mudanças neurológicas impressionantes. Nosso cérebro, quando praticamos essa técnica, libera neurotransmissores como serotonina e dopamina, fundamentais para nossa regulação emocional.
Quer que eu continue e aprofunde como essa prática pode ser específica para quem lida com depressão, ansiedade e burnout?
O savoring como ferramenta terapêutica
Você deve estar se perguntando: como essa prática pode ser realmente transformadora para quem convive com depressão, ansiedade e burnout?
Primeiro, preciso ser absolutamente clara: Savoring não é uma mágica que eliminará instantaneamente seu sofrimento. É uma ferramenta terapêutica poderosa, mas que exige compromisso e prática, assim como todos os movimentos da psicanálise e psiquiatria.
Na depressão, o savoring atua como um interventor neurológico. Quando estamos deprimidos, nosso cérebro cria um filtro que captura apenas informações negativas. É como se um programa de computador defeituoso só processasse dados ruins. Dessa forma, o savoring funciona como um antivírus emocional, reprogramando gradualmente esse sistema. Portanto, cada vez que a gente ensina nossa mente a ver o lado bom da vida, daquele momento, estamos reprogramando nossa mente. É um exercício (e pode cansar às vezes para a mente depressiva).
Agora, imagine a ansiedade como um rio caudaloso de pensamentos que nos arrasta. Digo que o savoring é como aprender a nadar conscientemente, encontrando pontos de apoio e respiração. Não eliminamos o rio, mas aprendemos a navegá-lo com maestria. Por isso, ganhar a habilidade de ficar presente, nos afasta de nossas preocupações (mesmo que momentaneamente) e nos traz para o foco. Isso ajuda a mente ansiosa a reduzir essa pressão do dia-a-dia.
No burnout, estamos falando de uma reconstrução completa. Não é apenas descanso, mas ressignificação. É entender que produtividade não significa autodestruição, mas equilíbrio e conexão com nossos valores essenciais.
Os benefícios de apreciar a vida
Os benefícios neurológicos são fascinantes. Por isso, praticando savoring regularmente, conseguimos:
- Reduzir a hiperatividade da amígdala (nosso centro de processamento do medo);
- Aumentar a atividade no córtex pré-frontal (responsável pela regulação emocional);
- Criar novas conexões neurais associadas ao bem-estar;
- Aprender a coexistir com alguns sofrimentos de forma mais leve e consciente.
A prática de savoring
Como fazemos do savoring não mais uma teoria, mas um estilo de vida? Vou compartilhar com você os exercícios que gosto de recomendar em meu consultório de psiquiatria. Não são técnicas complexas, mas pequenos movimentos que podem redesenhar completamente sua experiência emocional.
O primeiro exercício que sempre sugiro é o que chamo de “pausa consciente“. São 60 segundos diários onde você literalmente para tudo. Gosto de reforçar que não é meditação e não precisa ser num local especial. Pode ser enquanto o café está sendo preparado, no elevador, no intervalo entre uma reunião e outra.
Nesses 60 segundos, você vai fazer três coisas simples:
- Respirar intencionalmente;
- Registrar três sensações físicas do momento;
- Identificar um elemento ao seu redor que produza alguma sensação positiva;
Parece simples? E é! Por isso que funciona.
O diário das microalegrias não é um diário tradicional. Esse exercício pede que faça anotações rápidas de momentos que passariam despercebidos. Aquele café que estava especialmente bom, o sorriso de um desconhecido, o cheiro da manhã. Qualquer coisa! Qualquer coisa que tenha passado despercebido do seu dia.
A neurociência comprova: quanto mais registramos experiências positivas, mais nosso cérebro se treina para capturá-las. Dessa forma, é como criar um músculo de percepção do bem-estar.
Agora, para quem tem ansiedade, recomendo o “exercício dos cinco sentidos“. Quando perceber que os pensamentos estão acelerados, pare e:
- Identifique 3 coisas que você vê;
- 2 sons que consegue escutar;
- 1 textura que pode tocar.
É um âncora instantânea no presente.
Além disso, é importante ressaltar que savoring não é sobre estar sempre feliz. É sobre ser real, presente e gentil consigo mesmo. Faz sentido?
Seu momento de savoring
Uma coisa importante é a gente encontrar seus momentos de savoring. Aquilo que você pode apreciar. Eu vou trazer alguns exemplos de pacientes, que podem servir de inspiração para você, ok?
- Um empresário resolveu fazer aulas de desenho e idiomas para ter um momento só seu, desconectando de problemas da empresa e trazendo conexão consigo mesmo;
- Num escritório de arquitetura e design de interiores, sugeri o momento de café das sócias. 100% presente, sem nada digital. Dessa forma, elas se conectaram mais entre si, teve mais sinergia entre elas, além de mais resultados.
- Uma designer de carreira resolveu aprender mais sobre cafés e tira 30 minutos para preparar seu café e ler um livro no meio da tarde.
- Eu mesma, gosto de escrever poesias, desenhar ou ler livros que me reconectam com a minha essência e com o que eu gosto.
Cada um tem seu jeito. Você irá encontrar o seu. Combinado?
Agora, importante, se você precisar de ajuda com seu momento e sua saúde mental. Entre em contato que terei maior prazer em te ajudar. Porém, se tiver um médico psiquiatra de confiança, fale com ele. Mas não se esqueça, você não precisa se tratar para saborear a vida. Pelo contrário, saborear a vida vai te ajudar no seu tratamento. Lembre disso!